Crônica de Natal
Natal com criança tem sabor especial. Através do meu filho, revivo as memórias de minha infância nas noites de natal. Cheiro de comida na casa: peru, farofa, arroz de forno. Espera e mais espera. Roupas novas. Sininhos e a passagem rápida do velho Noel. Tão rápida, que nunca conseguíamos vê-lo, apenas ouvi-lo. A realidade estava naquilo que sentíamos, e isso nunca ninguém nos tirou. Oração. Abraços. Votos de felicidade. Presentes. Enfim, todos no carro. Destino: casa da vó e do vô. Lá, muito barulho. Barulho bom, alegre, contagiante. A comida se multiplicava na mesa: verdadeiro milagre do encontro. Comida, neste caso, era gente. E, mais uma vez, oração, abraços, votos de felicidade, presentes. Tudo em torno dos meus avós. Lindo de ver e de viver.
Hoje, tenho minha casa, marido e filho. E tenho também o "meu" natal. A casa da vó e do vô é a casa de meus pais. Foi lindo ver que a casa da minha mãe, que já foi a minha casa, está virando aquilo que foi (e ainda é) a casa de meus avós. De volta à nossa casa, preparamos os nossos aromas: hortelã, alecrim e carne de cordeiro. Ao anoitecer, a campainha do interfone foi quem anunciou a chegada de Noel. E, como sempre, sua passagem foi tão rápida que Vicente só pôde ouvi-lo, não vê-lo. Abraços, presentes, sorrisos. Enfim, todos no carro. Destino: casa da vó e do vô que, hoje, são bisa e biso.
A presença de meu avô se transformou. Continua intensa. Mistura de sentimentos. Muita saudade. Alegria por saber que, de tantos modos, ele estava ali: no chacoalhar dos gelos nos copos de wisky, nas luzes coloridas, no barulho bom e contagiante que ele admirava em silêncio. Na comida farta. Na presença tenra e corajosa de minha avó. Na oração. Nos abraços. Nos votos de felicidade. Nos presentes. E nas crianças. Quantas crianças. E eu me vi naquele chão de madeira, brincando com meus primos, abrindo meus presentes, como se nada (e tudo) tivesse mudado, em mais uma noite de natal.
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